por Rodrigo Monteiro a partir de Metáfora do Confronto da Cia. Gente
METÁFORA DO CONFRONTO – As pistas de skate impulsionam para o espaço de cima, lá no alto. Desenham curvas em um local plano-seco-interior de interior. No meio de tudo isso, uma vassoura.
METÁFORA DO CONFRONTO – João C. Silva pega uma vassoura e varre o chão da praça, o lugar mais baixo da grande área de escorregadores cinza sujos de barro.
Intervalo: cheiro mijado. Aline Corrêa insufla, expande, se apoia, gira e torce. Dança-break, parada de mão, ponte com as costas.
METÁFORA DO CONFRONTO – Metaphorá = transportar, deslocar, decolar. Metaphorá = varrer?
Na METÁFORA DO CONFRONTO, a varrida é pré-produção, execução e reverberação. Na(s) praça(s) grande(s) um vácuo concreto.
Preenchimentos com areia, pedra, ferro, bancos e crianças escorregando na grande curva mágica que leva para outra dimensão. A varrida reúne e espalha, retira o pó, mas também o levanta.
Na METÁFORA DO CONFRONTO, varre-se também o que faz parte, o que já é e está lá. A sujeira só é suja porque não é limpa. No momento pré-produção, reunir o pó para o conflito acontecer serve como um Melagrião: tira a tosse e alivia. Mas os atritos do cof cof não ajudam a expelir aquilo que não quer mais ser seu?
No momento execução, João e Aline, nas torcidas – METÁFORA DO CONFRONTO – paradas de mão e ponte com as costas, amontoam e jogam para todos os lados alguns desejos (de coisas e pessoas) coletados. Vontades de e do olhar, de ocupar, de encarar.
Intervalo: fita silver tape pra reluzir e dividir. METÁFORA DO CONFRONTO. No momento reverberação, passagens secretas para outras dimensões de um mesmo lugar são inventadas.
Crianças que se equilibram em bancos pichados continuam ali, abrindo espaços imaginários-reais que se confrontam com o grande reflexo cinza solar na/da METÁFORA DO CONFRONTO PRAÇA DA PAZ – criança e mijo.
A METÁFORA DO CONFRONTO: pessoas que são e pessoas que vão e vêm.
O silver tape é removido, assim como o suor de Santos que é seco através de toques e carinhos feitos pelas mãos. Um momento comunhão: roda, ciranda, gira-gira, ilustração e comoção. Uma criança no colo é o instante e o ponto para onde tudo é varrido. Ou melhor, quase tudo, porque lá nos escorregadores METÁFORA DO CONFRONTO fantásticos com um leve cheiro de mijinho ainda havia real ação.
E no final, uma camisa suja.
Rodrigo Monteiro é artista que tenta pensar e inventar/(re)ativar lugares onde criações e criaturas qualifiquem territórios.