por Wagner Schwartz em torno de Vacío, de Compañia de Danza Periférico
Nos últimos anos, tenho ouvido notícias de um país que acompanha o pensamento de suas pessoas. Por onde passam, elas têm se mostrado com uma vitalidade singular; desmembrada na maioria dos países velhos, muito desejada por seus vizinhos. Seu representante se tornou, para muitos, um super-herói, mesmo sendo protagonista da falta de forças extraordinárias – ele aumenta, apenas, o volume dos assuntos que surgem em seu entorno, à sua condição humana. Esse país tem se tornado um foco da articulação do pensamento público deixando registrado, nesse e noutros continentes, alguns exemplos vivos da inserção de novidade no mundo; por esses dias, em que a falta de tônus tem acompanhado o discurso de muitos de seus autores, meu amor, a novidade é a ação. Agir, até esvaziar os conceitos de civilização, de indivíduo, de sujeito, de homem, de mulher e seus afins que se criaram em lugares bem longe daqui e que, aplicados a muitos critérios, reaprenderam a utilizá-los, na forma tradicional de sua violência; e, ainda, tendo a chance de terem deixado o lugar da passividade para entrarem no período do pensamento, continuaram, em grande escala e pela sugestão da igualdade, a dilatar a evolução simbólica de suas indistinções.
O divino no homem aterrissou por aqui. Deixou de ser gente e virou verbo.
O Comum incorporou a antiga forma de Deus – esse que, sendo três, se deu mal.
O Comum, sendo uma multidão, ganhou o afeto de muitos,
embarcou na atração dos festivais e, voltando ao presente,
viaja de classe econômica, sonhando com a business class.
Esse Comum pretende Viver Junto, respira de longe,
amparado pela exceção que o enriquece, e pela diferença
que o faz como aqueles que o querem ver.
Seu passaporte é furta-cor, expande a ideia da sorte.
Conheci a cidade em que ele nasceu, seus amigos, sua família.
Ele tem a timidez escrita no corpo e sente nostalgia pelos espaços privados.
Se o Comum realmente existisse, meu amor, ele estaria longe daqui.
Em uma pequena escala, entre sete pessoas e na força dessa relação, em um ginásio transformado em mentira, desviado de uma conotação de vida coletiva para assimilar a visita dos interesses mais íntimos de um por um, como sendo público, o Vazio se lança na sorte, no que vier, no que passa pela cara, no que se expande na extensão libidinal de cada corpo, no que ainda abraça; e pode rir, também, porque acontece. A necessidade é um fato do passado, desse, dos Muitos; a substância biológica fundamental é a que não se justifica, nem se transforma em imagem, mas a que transpira – aqui as pessoas transpiram, meu amor, em seus processos de pequenas dimensões, de pequenas mortes, de traços inseparáveis entre vida selvagem e cosmos – sem descendência – ambos, ao mesmo tempo, desafiando as leis da física paralela às que estão por aí.
Wagner Schwartz [www.wagnerschwartz.com] Trabalha com arte contemporânea, dança e literatura, entre São Paulo e Paris. Seus projetos problematizam as relações artísticas e seu percurso.