Por Joubert Arrais, entorno de A Projetista, de Dudude.
(Para as Dududes que coexistem nos primeiros nomes)
Se a palavra está complicada, então, o dicionário é um bom recurso. Faz-me lembrar Boaventura: “Precisamos reaprender a fazer perguntas simples”. Isso vale também para palavras. Simplicidade. Mas quem disse que é fácil? Ou melhor, quem disse que não seria difícil? Lembrou-me do Manuel: “Palavra que eu escolho me incluo nela”. Li esse trecho no livro 1 2 3, a dança é o pensamento do corpo, da Helena. Gosto disso, dessas vozes entre outras vozes. Não encontrar, mas descobrir Manoel em Helena. E que me levou ao original, mas já atravessado. Escrever um projeto tem dessas coisas. Pelo menos, era pra ter. Dudude me fez sentir constatações. Fez-me esboçar estados metafísicos. Mas algo se perdeu no caminho, ou então, algo deixou de ser percebido, senti. Sentimos? Que as palavras são escolhas e não imposições. Mas nem sempre, quase nunca, por vezes. Se escrevo o que digo, há honestidade nesse ato. Mas a dinâmica da fala é bem maior que a da escrita. Dois tempos distintos, temporalidades que se cruzam em durações diferentes. Mesmo assim, e apesar disso, são irmãs. Quero dançar. Mas pra isso preciso de um projeto. Um projeto precisa de uma pergunta. Uma pergunta precisa de um contexto. Um contexto precisa de uma relação. Uma relação precisa de uma conversa. Uma conversa precisa de um motivo (ou não). Um motivo (ou não) precisa de uma ação. Uma ação precisa de um foco. Um foco precisa de uma meta. Uma meta precisa de um modo de acontecer, um jeito. Um jeito e um modo de acontecer precisam de umas ajudas. Umas ajudas não podem ser por gratidão. Mas por dádiva. De tanto especular, perdi-me nas palavras. Ou pior, perdi-me no estilo. Uma, um, uma, uma, um, uma, um, uma, um e umas. Somando dá 21, vinte e uns/umas: dez uma; nove um; duas umas. Na dúvida, aconselha-se dormir a ideia. Que o sono ajuda, ou adia, como diz Caio Fernando Abreu: “Fecho os olhos para esquecer. Dorme, menino, repito no escuro, o sono também salva. Ou adia”, em Os dragões não conhecem o paraíso. E se adia, o corpo se apronta de outro modo e responde. Que na consciência do corpo, há corpo de consciência, essa agora foi de José no artigo Abrir o corpo. Pois Dudude trabalha no corpo de consciência. Ou como sempre falou-me Sofia, do centro em movimento, lá de Lisboa: vamos dançar a teoria!
PS: Usei apenas o primeiro nomes da autora e autores citados propositalmente, lembrando um acordo que fiz quando conheci Dudude, este ano de 2013, para um debate que participamos em Belo Horizonte, durante o evento Mix Dança – Sesc Palladium.
Joubert Arrais é artista-pesquisador e crítico de dança. Mestre em Dança (UFBA) e bacharel em Comunicação Social/Jornalismo (UFC), com formação artística pelo centro em movimento – c.e.m (Lisboa/Portugal), faz doutorado em Comunicação e Semiótica (PUC/SP, Capes). Escreve no enquantodancas.net e desenvolve, desde 2011, o projeto itinerante Crítica com a Dança.