Bienal SESC de Dança 2013

7×7

06 SET
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Vanilton Lakka x Bruno Freire = Guarde o residual no bolso ou bolsa

texto e fotos por BRUNO FREIRE a partir de Mono-Blocos de Vanilton Lakka e Colaboradores.
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A rua é do imprevisto. Até que ponto a coreografia de Vanilton Lakka e Colaboradores está porosa às imprevisibilidades da rua?

“Por favor você pode me dar o número do seu celular?”

O trabalho perpassa convites de aproximação. Mensagens sms irão indicar o que fazer e quando agir. Uma coreografia controlada via tecnologias móveis. A mobilidade do espectador é enquadrada a mover-se segundo as regras estabelecidas pelas mensagens vindas do ‘além’ (por eles) para o seu celular. No entanto, pode-se também seguir o fluxo das ações e intuir o jogo, afinal estamos na rua e o jogo está dado: o espectador é parte da peça e os dançarinos vão aos poucos propondo os jogos. Eles, nós e os outros.

“Sem deixar a peteca cair”

Então eles entram em cena equilibrando uma bolinha em uma colher. Segurando a onda. Protegendo seus ovos e atacando o do outro. Um jogo que insere o público e confunde o público de quem é público e quem não é. Um bloco plural que desmonta a lógica de um bloco Mono ou de blocos Mono. Nem mesmo os dançarinos são uma massa mono (um uno), o bloco de colaboradores de Vanilton Lakka são pessoas completamente distintas. Essa distinção entre diferentes tipos de blocos fica explicita quando surge no final da apresentação um bloco de turistas chineses. De um lado um bloco-mono, do outro um bloco formado por miscigenações e diferenças.

O título Mono-Blocos deve-se, provavelmente, ao fato do modo como o grupo pensou a trilha sonora. Mochilas-Caixa-de-Som-Mono amplificam a música da peça que se confunde com a trilha da rua criando uma espécie de ambiente sonoro que é o cruzamento disso tudo. O som e a ação são stereo, mas o trabalho insiste em pensar mono, quando é a rua que não nos deixa ser.

Ao longo da obra, novas proposições e convites ao público vão surgindo. No entanto, essa necessidade de misturar o público ao Mono-Blocos vai tornando as indicações cada vez menos complexas. O jogo acaba por se simplificar (até mesmo infantilizar) suas regras. E mesmo com recursos básicos de se inserir o outro no jogo, mesmo assim, o público em certos momentos atravanca o jogo. Por um lado é rico imaginar que um coreógrafo esteja interessado em coreografar o espectador. Em pensar coreografias para o espectador.

É uma necessidade política? É populista? É polis?

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A inserção do público, a interatividade, a participação, assim como outras regras que aos poucos se tornam recorrentes na arte ou num trabalho de dança, bem como o desejo de desestabilizar a hierarquia, questionar o poder, trabalho de pesquisa, teoria e prática, podem acabar se tornando leis vigilantes. Certos pensamentos da dança contemporânea que surgem como estratégia política acabam por se tornar regra. Quando a exceção é a regra, a política torna-se polícia.

“Blusa Vermelha”

“Camiseta cinza”

“Camisa Branca”

Tão longe, tão perto. O simples efeito de alteração das distâncias da cena. Os deslocamentos de zoom do espetáculo. Apenas esse pequeno movimento de cena é participativo, pois exige um deslocamento do olhar. A hierarquia do olhar se desestabiliza. A coreografia e os bailarinos ficam minúsculos. O que importa ver? O que ver? Ver já é uma escolha. O que você escolhe ver na Bienal de Santos pode ser uma escolha política ou de milícia.

A repórter da Globo, os blocos de chineses, o gari, o advogado, a secretária, o dançarino, o transeunte, o câmera man, o economista, o passante, a equipe organizada do sesc todos os atores sociais que cruzam esse espaço fazem parte de uma mesma coreografia repleta de imprevistos. Talvez por isso exista uma necessidade latente na coreografia de tornar suas regras explicitamente claras, a fim de desenvolver seus sistemas.

Caderno de Anotações

a globo
a televisão e a dança
a rua dança
na rua se dança
processo em Excesso
guarde o residual no bolso ou bolsa
a gente é público
música ambulante
rua
lógica
estrutura
sistema
jogo

mensagens do ‘além’ -tecnologia móvel – Tecnologia de mobilidade no/do e através do corpo

a rua é pública
a dança é de rua
mobilizar, alterar pontos de vista e deslocar o campo de visão, dar zoom
participação pode limitar ou amarrar as construções coreográficas
mono-blocos
pluri-blocos
polis-blocos
hacker
senta no código aberto
senta no QRCode
caminhe sem parar

 

Texto e fotos por Bruno Freire, atua como intérprete e performer desde 2004, é mestre em comunicação e está prestes à imigrar para o ex.e.r.ce master em Montpellier.

www.seteporsete.net

05 SET
Web

7×7

Confira, no Portal SescSP, entrevista exclusiva com Sheila Ribeiro, especialista transmídia pós-colonial e idealizadora do conectivo 7×7.
A partir do início da Bienal, acompanhe aqui as impressões de artistas colhidas pelo 7X7, sobre o panorama apresentado pela edição de 2013 da Bienal Sesc de Dança e participe do debate!
7X7
conceito: Sheila Ribeiro
artistas-interlocutores: Arthur Moreau, Bruno Freire, Caroline Moraes, Laura Bruno e Rodrigo Monteiro
artistas convidados: Wagner Schwartz, Beto Freitas e Gabriela Alcofra
produção dona orpheline: Naiada Dubard e Camila Casseano
Duração: de 5 a 12 de setembro

 

05 SET
Web

PARTICIPE DO 7X7!

Se você é um(a) artista que gosta de falar sobre o que viu depois de ter assistido trabalhos de Dança e faz isso no corredor, em algum bar ou restaurante com seus amigos íntimos, o 7×7 te convida a compartilhar suas paixões, reflexões, desgostos ou crueldade. Escreva, produza imagens dialógicas ou manifeste sua percepção sensível e crítica como quiser, em relação aos trabalhos da Bienal Sesc de Dança 2013.
Se algum trabalho deste evento mexeu com você, procure um dos artistas-interlocutores do 7×7 (7×7-bienaldedanca@seteporsete.net), que estão em Santos circulando pela Bienal: Arthur Moreau, Bruno Freire, Rodrigo Monteiro, Laura Bruno. Sua ação vira discussão e, em seguida, publicação no site do projeto (seteporsete.net) e no site da Bienal (bienaldanca2013.sescsp.org.br/blog_-7×7/).
04 SET
Web

7×7 | artistas-interlocutores

Arthur Moreau: artista, bacharel em Comunicação das Artes do Corpo (PUC-SP) e graduando em Filosofia (USP).

Sheila Ribeiro é artista transmidia e trabalha com dança, moda, novas tecnologias e saúde mental. Dançou para Benoit Lachambre (cia par Bleux) e atuou no cinema para Sophie Deraspe. Sua zona de colaboraçao se chama dona orpheline. Faz parte da cia de conceitos chamandoela.com – sheilaribeiro.net.

Bruno Freire é formado em performance e dança pela PUC-SP (2010) com experiência profissional na área de interpretação, criação e performance. Mestre em Comunicação e Semiótica da PUCSP e participante do Centro de Estudos da Dança (CED).

Rodrigo Monteiro é bacharel em Comunicação das Artes do Corpo pela PUC-SP, onde também desenvolveu sua pesquisa de mestrado no Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Semiótica. Interessa-se por experimentações nas formas de estruturação, organização, exibição e circulação de trabalhos das artes do corpo. Mora e atua no ABC paulista, região onde investiga, junto com coletivos, modos de curadoria.

Caroline Moraes é publicitária e fotógrafa, trabalha como redatora desde 2004 e venho atuando como fotógrafa desde 2010. No 7X7 atua colaborando com o design e organizaçao de conteudo do blog e site do projeto.

Laura Bruno é idealizadora e artista de performance e coreografia do Núcleo Tríade e do Projeto DR. Doutoranda em Artes Cênicas na ECA/USP, mestre em Artes pela mesma instituição e bacharel em Ciências Sociais pela FFLCH/USP.

04 SET
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Sobre o 7×7

Sheila Ribeiro organiza o projeto desde 2009, ocasião em que cobriu o Festival Contemporâneo de Dança (São Paulo) com parceiria do idanca.net e convidou os primeiros artistas escritores que viriam a fazer parte do 7×7 em seguida: Bruno Freire, Rodrigo Monteiro e Arthur Moreau. Em 2010, o projeto incorporou o Panorama de Dança (Rio de Janeiro), com a curadoria de Arthur Moreau. Em 2011, o projeto cobriu 5 ( cinco) festivais em 3 ( três) diferentes Estados: Panorama de Dança (RJ), Festival Contemporâneo de Dança (SP), Panorama Sesi de Dança (SP), Olhares Sobre o Corpo (MG) e FID (MG), com a entrada da colaboradora Gisele Nallini. Hoje, Laura Bruno integra a equipe. O projeto até hoje produziu mais de 72 críticas, envolvendo cerca de 122 artistas (entre criticos e criticados) de 10 países diferentes em português, inglês, francês e espanhol. As críticas estão disponíveis no blog http://projeto7x7.wordpress.com, no idanca.net e no site seteporsete.net.