MARCELO EVELIN x MARINA GUZZO = b with people, b with me ou quero ser o marcelo evelin.
Blog 7X7
por Bruno Freire a partir de Aventura entre Pássaros de João Saldanha.
Não vou citar Agamben para falar do contemporâneo. O livro está sempre ali na cabeceira para que você possa consultar e fazer a sua citação na mesa de bar e fazer-se eloquente. Muito se utiliza Giorgio Agamben para justificar uma certa obscuridade da fala e de alguma forma disfarçar uma incerteza de eixo curatorial. Afinal, eu, o cego, não enxergo a clareza das trevas que só eles vêem. Aguarde, pois um dia saberemos <Jamais>.
Quando saio da Aventura entre pássaros de João Saldanha, me confronto com os seguintes paradigmas: por que existe uma exigência no ar em ser ‘do contemporâneo’? Qual o medo do pensamento moderno? É possível desenvolver um pensamento moderno hoje? Nós já fomos modernos? É realmente possível uma dança congelar-se nos anos 90? E por que uma dança moderna ou clássica precisa ser considerada contemporânea? E por que não inventamos outros nomes para diferentes danças?
All Art Has Been Contemporary, 1999, Maurizio Nannucci.
Reanectment é cool. Reenectment é como se fosse uma habilidade de fazer como se faziam antes e o interessante é que eu não estava lá para ver. Mas isso, por si só, não justifica uma remontagem <mas sim>. Companhias internacionais refazem seus espetáculos primordiais também em um sentido histórico e educativo. Informar as gerações de que um dia existiu isso e aquilo e aquilo outro. Tornando a peça um acontecimento vivo. Nela posso observar as influências, repercussões formais, conceituais e estéticas nas companhias que surgiram depois dela. Quem não viu os Dr. Martens do Wim Vandekeybus se replicarem nos espetáculos do Cena 11 <nem me lembro se era o mesmo coturno, mas parecia muito>
No entanto, um artista hoje, investigar uma linguagem que desmonta e remonta pensamentos e técnicas modernistas e clássicas pode ser visto como démodé, velho e/ou ultrapassado <neoclássico?>.
João Saldanha parte do livro A Expressão das Emoções no Homem e nos Animais de Charles Darwin misturando e revisitando o clássico O lago dos cisnes, o qual tem como uma de suas características um caráter lúdico. Um clássico da dança, assim como outros tantos clássicos pautados em narrativas e pantomimas.
João parece criar nos figurinos, na primeira cena do espetáculo, uma espécie de narrativa/panorama de roupas utilizadas em diferentes danças de diferentes épocas, sem uma ordem cronológica óbvia. Mas é como se cada pássaro que entra no palco da esquerda para a direita se referenciasse a uma dança. Detalhes nas roupas que remetem ao jazz, à Cunningham, ao clássico, ao moderno, ao descompromisso do contato improvisação, a peças infantis, a penas de aves, etc.
A movimentação dos pássaros é da ordem do verossímil e não da mimética. Os bailarinos não querem imitar/mimetizar a natureza, mas, sim, criar uma outra realidade/natureza em cena. Onírica. Poética. Não se trata de representação, mas de criação de códigos reconhecíveis ao público e são, justamente, esses códigos que permitem o espectador, se lhe interessar, acompanhar o desenvolvimento de uma linguagem que vai ser trabalhada e retrabalhada durante todo o espetáculo.
Lembro-me das cartas de Noverre, onde muito se discutia, ali, no balé de corte francês, conceitos que surgiram dos códigos e da prática de uma elite cujos assuntos se reverberam nos códigos da dança até hoje. <Evolution, baby> Ali está presente uma discussão de, por exemplo, se a arte deveria ou não imitar a natureza. E as pantomimas, as ações do balé vão nessa direção, entre se afastar ou não da imitação e/ou criar uma verossimilhança (uma realidade inventada que cria seus próprios códigos e significados, compartilhando esses códigos com o seu espectador, que aprende enquanto assiste ou quanto mais assiste).
João Saldanha inventa uma dança, às vezes utilizando deslizamentos reconhecíveis e simples para quem faz/fez alguma aula de dança. Mas aproxima-se de Darwin para criar suas pantomimas de acordo com os movimentos de animais, misturando a técnica e uma verossimilhança que parte do corpo e da natureza. Essa apropriação é literal. É explícita. Assume o que os gestos metaforicamente representam. Apontar o dedo indicador quer dizer não. Apontar o ‘dedo indicador para o público’ é uma arma, mas também não é uma arma, é um quadro, mas eu não vejo um quadro, é um telefone, que é também hangloose. Parece que as velhas pantomimas estão sendo revistas e revisitadas. Revisitar a pantomima a partir da movimentação de pássaros das mais diferentes formas se movendo pelo palco, sapos, garças, aranhas, caranguejos… Nos soa ainda como representação demais. Teatrinho <mas não>. João Saldanha estabelece uma conversa com seus pares em uma linhagem de coreógrafos. Ele remonta poeticamente a evolução de uma dança, somando-se a isso, a experiência e a história de dança do próprio coreógrafo, residente no Rio de Janeiro.
Assistir essa aventura é assistir a evolução de diversos códigos da dança. Os pássaros são um pretexto para contar uma aventura em dança, literalmente.
Assistir ao trabalho de João Saldanha é a diferença entre observar uma conversa e/ou um diálogo. Conversa se faz com muitos, diálogo é um para um.
Enquanto isso, lá atrás, no fundo do palco, o vento sopra a vela do barco de uma história contínua.
O vento leva.
Para onde?
Eu não sei dizer.
Não sou tão contemporâneo assim.
by Wagner Schwartz on Vacio by Compañia de Danza Periférico
In the last couple of years, I have heard news from a country that follows its people’s thought. Wherever they pass, they have shown a singular vitality; dismembered in most of the old countries, much desired by their neighbors. For many its representative became a superhero, even though he is the protagonist of the absence of extraordinary powers – he increases only the volume of the subjects that come up around him, to his human condition. This country has become the focus of the articulation of public thought documenting in this continent and in others some live examples of the insertion of novelties in the world; these days, when many of its authors’ speech lacks tonicity, my love, the novelty is the action. To act up to the point of emptying the concept of civilization, of the individual, of the subject, of man, of woman and the likes who were brought up in places very far away from here and that, having been applied to many criteria, relearned how to use them in the traditional form of their violence; and, still having the chance to leave the place of the passive to enter the period of thought, they continued, at a large rate and by their suggestion of equality, to dilate the symbolic evolution of their indistinctness.
The divine in mankind has landed here. It is not people anymore, it has become the verb.
The Common has incorporated God’s old form – this one that, being three, ended up badly.
The Common, being a crowd, has earned the affection of many,
embarked in the attraction of the festivals and, coming back to the present,
travels in the economy class, dreaming of the business class.
This Common intends to Live Together, breathes from a distance,
guided by the exception that enriches him and by the difference
that makes him like those who want to see him.
His passport is iridescent, expands the idea of luck.
I visited the city where he was born, his friends, his family.
He has shyness written over his body and feels nostalgia for private places.
If the Common really existed, my love, he would be far away from here.
At a small rate, among seven people and in the strength of this relationship, in a gym transformed into a lie, dodging a connotation of collective life to assimilate the visit of the most intimate interests one by one, as public, the Void hurls itself into luck, into whatever comes, into what passes by your face, into what expands along the libidinal extension of each body, into what still hugs; and can laugh also because it happens. Need is a past fact of this one, of the Many; the fundamental biological substance is the one that offers no justification neither transforms itself into image, but the one that perspires – people perspire here, my love, in their processes of small dimensions, of small deaths, of inseparable traces between wild life and cosmos – without descendants – both at the same time challenging the laws of physics parallel to those hanging around.
Wagner Schwartz [www.wagnerschwartz.com]
Works with contemporary art, dance and literature between São Paulo and Paris.
His projects problematize the artistic relations and their course.
Translation Portuguese-English: writer and poet Chris Ritchie, M.A.
por Wagner Schwartz em torno de Vacío, de Compañia de Danza Periférico
Nos últimos anos, tenho ouvido notícias de um país que acompanha o pensamento de suas pessoas. Por onde passam, elas têm se mostrado com uma vitalidade singular; desmembrada na maioria dos países velhos, muito desejada por seus vizinhos. Seu representante se tornou, para muitos, um super-herói, mesmo sendo protagonista da falta de forças extraordinárias – ele aumenta, apenas, o volume dos assuntos que surgem em seu entorno, à sua condição humana. Esse país tem se tornado um foco da articulação do pensamento público deixando registrado, nesse e noutros continentes, alguns exemplos vivos da inserção de novidade no mundo; por esses dias, em que a falta de tônus tem acompanhado o discurso de muitos de seus autores, meu amor, a novidade é a ação. Agir, até esvaziar os conceitos de civilização, de indivíduo, de sujeito, de homem, de mulher e seus afins que se criaram em lugares bem longe daqui e que, aplicados a muitos critérios, reaprenderam a utilizá-los, na forma tradicional de sua violência; e, ainda, tendo a chance de terem deixado o lugar da passividade para entrarem no período do pensamento, continuaram, em grande escala e pela sugestão da igualdade, a dilatar a evolução simbólica de suas indistinções.
O divino no homem aterrissou por aqui. Deixou de ser gente e virou verbo.
O Comum incorporou a antiga forma de Deus – esse que, sendo três, se deu mal.
O Comum, sendo uma multidão, ganhou o afeto de muitos,
embarcou na atração dos festivais e, voltando ao presente,
viaja de classe econômica, sonhando com a business class.
Esse Comum pretende Viver Junto, respira de longe,
amparado pela exceção que o enriquece, e pela diferença
que o faz como aqueles que o querem ver.
Seu passaporte é furta-cor, expande a ideia da sorte.
Conheci a cidade em que ele nasceu, seus amigos, sua família.
Ele tem a timidez escrita no corpo e sente nostalgia pelos espaços privados.
Se o Comum realmente existisse, meu amor, ele estaria longe daqui.
Em uma pequena escala, entre sete pessoas e na força dessa relação, em um ginásio transformado em mentira, desviado de uma conotação de vida coletiva para assimilar a visita dos interesses mais íntimos de um por um, como sendo público, o Vazio se lança na sorte, no que vier, no que passa pela cara, no que se expande na extensão libidinal de cada corpo, no que ainda abraça; e pode rir, também, porque acontece. A necessidade é um fato do passado, desse, dos Muitos; a substância biológica fundamental é a que não se justifica, nem se transforma em imagem, mas a que transpira – aqui as pessoas transpiram, meu amor, em seus processos de pequenas dimensões, de pequenas mortes, de traços inseparáveis entre vida selvagem e cosmos – sem descendência – ambos, ao mesmo tempo, desafiando as leis da física paralela às que estão por aí.
Wagner Schwartz [www.wagnerschwartz.com] Trabalha com arte contemporânea, dança e literatura, entre São Paulo e Paris. Seus projetos problematizam as relações artísticas e seu percurso.
7×7 invites you to share your passions, reflections, disappointments and/or cruelties that you, as an artist, express in the theatre foyers, bars and restaurants after watching a dance performance. Here you can write, initiate dialogue and freely manifest your sensitive and critical thoughts on what you have watched. If you feel mobilized by any work you have seen at the Bienal Sesc de Dança 2013, seek one of the 7×7 artists-interlocutors in Santos – Arthur Moreau, Bruno Freire, Rodrigo Monteiro, Laura Bruno or send an email to (7×7-bienaldedanca@seteporsete.net). Your thoughts will be posted at seteporsete.net and at the Bienal homepage (bienaldanca2013.sescsp.org.br/blog_-7×7).
by Rodrigo Monteiro on Vacio by Compañia de Danza Periférico
Hi. It begins like this.
No, no, I can’t. But I want it so badly…
Right after stepping out, he turned around to see who was following. An uncomforting taboo void is triggered, but it’s exciting (oh, my God, oh, my God!). Relief, relief.What’s left behind resisted, stuck (performatized: a trace that remains after the end). The experience has its moment. And it lasted.
He looked back again, inspired, filled himself with air. The instantbroughtthe wish to throw himself off, to hurl himself into a starry and annihilating space. Pleasant. Affectionateandcanny.
He remainedthere.
Rested.
He grabbed the world as if it would implode in a kind of caress that stirred a sensation of desire.
A desire game:
_____________________________________________WITHATOUCH__________________
It started be LOW
3
2 Low
1 low
gone!
the ONLY
lovers
begin to make love. FULL
they crawl, heap up on top each other.FULL
the caress begins to slide.
the left and the right side invert positions.
>>>>>>>>>>>>>>><<<<<<<<<<<<<<<<<<<<<<
the ghostly sound appears,disappears. itreappearsin a new feature. itdisappearsand fades.EATS
h-e-a-v-y-b-r-e-a-t-h-i-n-g— ————————–
bone, skin, head, neck. LESS
guts, hair, nail, finger, ear.LESS
hunger for seeing, feeling, noticing. pine for having, expellingand receiving.HAS
leap 1 , 2 and 3 1 2 3
Lullaby. LA
Lulled TI
andLullaby. DO
instantof distraction provokesan accident andconvulsion. SOL
what to do? who to run for? who will be? TWO?
together, together, together!TWO?
there is no two, there is neither.
there is eye to eye, teeth to teeth. FACE
there is eye to eye.
come,FACE
they open their mouth
and kiss you.
they go away,
take the arms,
wish for OUR
and !
and !
and !
Gone! FULL!!
On a big linethat (im)pressesthey poke your eyes, come up on to you and EAT you UP!
stay
stay
last
instant
insist
remain
stay. LIKE THIS
Rodrigo Monteiro is an artist who tries to think and invent/(re)activate places where creations and creatures qualify territories.
“Translation Portuguese-English: writer and poet Chris Ritchie, M.A.”
por Rodrigo Monteiro a partir de Vazio da Compañia de Danza Periférico
Oi. Começa assim.
Não, não posso. Mas eu quero tanto…
Assim que saiu, virou-se e olhou para quem estava atrás. Deflagrou-se um vazio tabu que desconfortou, mas animou (ai meu Deus, ai meu Deus!). Aliviou, aliviou. O que ficou, resistiu, grudou (performatizou: um vestígio que permaneceu depois que acabou). A experiência tem o seu momento. E ele durou.
Olhou pra trás novamente, inspirou, se encheu. Trouxe num instante uma vontade de se jogar, de se atirar num espaço constelante e aniquilador. Prazeroso. Afetuoso e perspicaz.
Permaneceu lá.
Repousou.
Agarrou o mundo como se ele fosse implodir, numa espécie de afago que despertou uma sensação de desejo.
Um jogo desejo:
_____________________________________________COM UM TOQUE__________________
começou em BAIXO
3
2 Baixo
1 baixo
Foi!
os SÓ
amantes
começam a se amar. CHEIO
arrastam-se, amontoam-se uns nos outros. CHEIO
a carícia começa a deslizar.
os lados esquerdo e direito inverteram a posição.
>>>>>>>>>>>>>>> <<<<<<<<<<<<<<<<<<<<<<
o som fantasma aparece,desaparece. re-aparece numa nova feição. desaparece e some. COME
r-e-s-p-i-r-a-ç-ã-o-o-f-e-g-a-n-t-e ————————–
osso, pele, cabeça, pescoço. SEM
vísceras, cabelo, unha, dedo, orelha. SEM
fome de ver, sentir, perceber. ânsia por ter, expelir e receber. TEM
salto 1 , 2 e 3 1 2 3
Acalanto. LÁ
Acalantou SI
e Acalanto. DÓ
instante de distração provoca acidente e convulsão. SOL
o que fazer? pra quem correr? quem estará? DOIS?
junto, junto, junto! DOIS?
não tem dois, não têm os dois.
tem olho no olho, dente no dente. CARA
tem olho no olho.
vem, CARA
abrem a boca
e te beijam.
vão,
pegam os braços,
desejam NOSSO
e !
e !
e !
Foi! CHEIO!!
numa grande linha que (im)pressiona furam os seus olhos, vêm pra cima de você e te COMEM!
fica
fica
dura
instante
insiste
permanece
fica. ASSIM
Rodrigo Monteiro é artista que tenta pensar e inventar/(re)ativar lugares onde criações e criaturas qualifiquem territórios.